De Prisões a Campos de Esperança: A História que Cativou a Disney
Numa fria manhã de março de 2009, o advogado criminalista Eduardo “Coco” Oderigo cruzou pela primeira vez os pesados portões da prisão de San Martín em Buenos Aires. O que encontrou ali mudaria para sempre sua vida e a de milhares de pessoas: um ambiente carregado de desesperança, violência e resignação. No entanto, onde outros viam casos perdidos, Oderigo vislumbrou uma oportunidade de transformação através de uma ferramenta pouco convencional: o rugby.
A Semente da Mudança
“Quando você entra numa prisão, a primeira coisa que te atinge é o peso do ambiente”, reflete Oderigo. “Não são apenas os muros físicos; é aquela sensação esmagadora de vidas em pausa, de futuros truncados”. Essa observação levou o advogado a compreender que a verdadeira prisão nem sempre está nas paredes que nos cercam, mas nas barreiras mentais que construímos ou que a sociedade constrói para nós.
O projeto Espartanos nasceu dessa compreensão profunda da natureza dual do encarceramento. Oderigo entendeu que para transformar vidas precisava abordar tanto as prisões físicas quanto as mentais. O rugby, com seus valores de trabalho em equipe, respeito e disciplina, tornou-se o veículo perfeito para essa transformação.
Além do Esporte
O que começou como um simples treino de rugby logo evoluiu para um programa integral de transformação social.
“NÃO SE TRATA APENAS DE ENSINAR A JOGAR”, EXPLICA ODERIGO. “TRATA-SE DE RECONSTRUIR O TECIDO HUMANO, DE RECONECTAR ESSAS PESSOAS COM SUA PRÓPRIA HUMANIDADE”.
O programa se estrutura em quatro pilares fundamentais: a prática do rugby, a espiritualidade, a educação e a vinculação profissional. Cada elemento foi cuidadosamente desenhado para abordar diferentes aspectos da reabilitação psicossocial.
A Transformação Interior
O impacto psicológico do encarceramento é assustador. Os estudos demonstram que a vida na prisão provoca mudanças significativas na personalidade que podem dificultar a reabilitação. Os detentos desenvolvem desconfiança crônica, dificuldade para se relacionar, problemas na tomada de decisões e anestesia emocional. O ambiente penitenciário pode desencadear ou agravar problemas de saúde mental. Os fatores incluem: privação de liberdade, adversidades prévias, ambiente iatrogênico, isolamento social e perda do apoio familiar.
Ao aplicar a psicologia do esporte no programa, houve uma intervenção multidimensional, possibilitando o desenvolvimento de habilidades psicológicas, o fortalecimento da resiliência, a melhora da autoestima e a construção de vínculos sociais positivos.
Os psicólogos esportivos que trabalham com o programa documentaram mudanças significativas nos participantes. “Vemos uma evolução notável na forma como lidam com suas emoções”, aponta a Dra. Maria González, psicóloga esportiva do programa. “O rugby ensina que a força não está na violência, mas na capacidade de trabalhar juntos, de confiar no outro”.
Essa transformação interior se reflete em números contundentes: a taxa de reincidência entre os participantes do programa foi reduzida de 65% para 5%, uma conquista sem precedentes no sistema penitenciário.
Um Novo Paradigma
A redução da reincidência de 65% para 5% demonstra a efetividade de abordagens alternativas em segurança pública e reabilitação. Além da prevenção do crime, o sucesso do programa se evidencia na reabilitação efetiva, inclusão social e apoio comunitário.
A Fundação Espartanos alcançou avanços importantes em infraestrutura:
- Construção de campos de rugby
- Implementação de salas de aula
- Criação de uma sala digital com acesso regulado à internet
- Construção de um auditório
Paralelos com o Projeto BELO
A experiência do Espartanos encontra um eco significativo em outro projeto transformador: o Projeto BELO. Enquanto o Espartanos trabalha com pessoas fisicamente encarceradas, o BELO foca naqueles aprisionados nas prisões invisíveis dos estigmas da saúde mental. Entre os múltiplos estigmas, está o estigma social que gera isolamento e dificulta a inclusão, a recuperação e a inserção no trabalho.“As barreiras mentais podem ser tão restritivas quanto os muros de uma prisão”, reflete Luis García, fundador da Fundación Europamundo. “Tanto no Espartanos quanto no BELO, trabalhamos para derrubar esses muros, visíveis e invisíveis”.
Um Fenômeno Global
O sucesso do programa transcendeu fronteiras. Atualmente, o Espartanos opera em 59 prisões em 7 países, com mais de 650 voluntários e 100 empresas colaboradoras. O modelo Espartanos foi replicado com sucesso no Chile, Uruguai, El Salvador, Peru, Espanha e Quênia. Essa expansão chamou a atenção da Disney+, que decidiu levar essa história inspiradora para as telas de todo o mundo.
A Série que Vai Emocionar o Mundo
“Espartanos, Uma História Real” estreia no próximo dia 19 de fevereiro no Disney+. A série documenta a extraordinária história do primeiro time de rugby prisional da Argentina e seu impacto transformador na sociedade.Mas antes, no dia 7 de fevereiro, os espectadores terão uma oportunidade única de interagir com Coco Oderigo em uma transmissão ao vivo exclusiva. Durante este evento, moderado por Luis García, Oderigo compartilhará detalhes inéditos sobre esta extraordinária história de transformação social e responderá às perguntas dos espectadores.
El Legado Continúa
O impacto do Espartanos vai além das estatísticas. Cada história de reabilitação representa uma família reconstituída, uma comunidade fortalecida, uma nova oportunidade de vida. O programa demonstrou que quando se combinam esporte, psicologia, educação e apoio comunitário, a transformação não é apenas possível: é inevitável.
A história do Espartanos nos lembra que a verdadeira liberdade começa na mente e no espírito, e que a mudança social mais profunda ocorre quando nos atrevemos a ver além das etiquetas e dos preconceitos, reconhecendo a humanidade inerente em cada pessoa, independentemente de sua situação atual.
CADA HISTÓRIA DE REABILITAÇÃO REPRESENTA UMA FAMÍLIA RECONSTITUÍDA, UMA COMUNIDADE FORTALECIDA, UMA NOVA OPORTUNIDADE DE VIDA.
A convergência entre esporte, psicologia, filosofia e segurança pública demonstra que a transformação social é possível quando se abordam simultaneamente as diferentes dimensões do ser humano. O sucesso do programa Espartanos, refletido em sua expansão para sete países e sua adaptação para série do Disney+, evidencia o potencial desta abordagem integral.
A redução significativa na taxa de reincidência não representa apenas uma conquista estatística, mas uma profunda transformação humana que impacta positivamente a segurança pública, a saúde mental e o tecido social como um todo. Mas é preciso lembrar que o sucesso de projetos como Espartanos e BELO depende da participação ativa de voluntários, empresas colaboradoras, instituições educativas, famílias e comunidades.